Monday, February 19, 2018

Massacre em minha escola

    _ Eu assumo a autoria de meu crime. _ Eu dizia a juíza.

_ Então conte-me como você executou seus colegas de classe. _ Disse a juíza inclinando sua cabeça em minha direção.

_ Ele é satanista, eu mesma vi ele lendo um livro com rituais satânicos no intervalo. _ Gritou uma sobrevivente que estava no tribunal.

_ Espere a sua vez de falar! Agora vamos ouvir o que ele tem a dizer. _ Interrompeu a juíza querendo saber os dois lados da história.

Eu estava diante de meu próprio julgamento, sei que o que fiz é errado, porém me senti obrigado a fazer já que esta era minha única solução para o meu problema.

Dois meses atrás comprei um livro pela internet imaginando que fosse um livro de terror, porém ao abri-lo percebi que era repleto de imagens macabras e indescritíveis. O livro parecia uma bíblia, no entanto era algo muito mais aterrorizante.

Em uma de suas páginas havia uma espécie de lista de mandamentos e um deles me chamou muito a atenção, nele dizia: " Se alguém o incomodar, peça que pare. Se não o fizer, destrua-o."

Isso fez com que me lembrasse de todas as vezes que pedi para que Nícolas parasse de me zoar por ser diferente, até as outras crianças percebiam o bullying que eu sofria, porém jamais alguém fez algo para parar Nícolas.

Os dias se passaram e eu continuei lendo aquele livro, cheguei a levá-lo para a escola, foi quando uma de minhas colegas de classe viu o livro e me acusou de satanismo.

Movido pelo ódio crescente em meu coração causado por Nícolas comecei a pesquisar qual seria a melhor forma de me vingar e destruí-lo como dizia no livro. Foi então que encontrei em vários sites contando sobre os maiores massacres em escolas, entre eles estavam o de Columbine e o de Realengo.

O que mais me chamou a atenção foi o de Realengo, pois era o mais recente e havia ocorrido no Brasil em 2011. Nesse massacre um ex aluno da escola havia entrado e atirado em várias crianças que ele nem ao menos conhecia pelo simples fato dele ter sofrido bullying durante toda a sua infância, assim como eu.

Naquele momento uma brilhante ideia veio em minha mente, vou me vingar de uma vez por todas daquele desgraçado. Sou filho de policiais e sei onde minha mãe guarda a arma, vou usá-la para matá-lo.

Enfim chegou o dia que eu havia escolhido para tal feito, a arma estava em minha bolsa e eu já estava entrando na sala. Naquele momento pensei por um segundo na hipótese de perdoar aquele garoto arrogante e poupar sua vida.

_ E ai fedorento!!! _ Disse Nícolas chamando minha atenção.

_ Eu não aguento mais você me zoando, já cansei de pedir para parar!!! _ Respondi irritado com as gracinhas de Nícolas.

_ O que não aguentamos mais é esse seu fedor que contamina toda a escola. Você já pensou em usar um desodorante? _ Disse Nícolas zombando de mim com um desodorante que havia em sua bolsa.

_ Eu vou te matar seu filho da puta!!! _ Eu disse olhando dentro dos olhos de Nícolas enquanto tentava conter meu ódio.

_ Só se for com o seu cheiro. _ Disse Nícolas gargalhando com o restante da turma.

Na hora do intervalo todos saíram da sala, menos eu que furioso com a situação estava terminando de arquitetar meu plano de vingança. Depois do intervalo todos voltaram aos seus lugares e meu coração disparou ao ver Nícolas entrando na sala, pois eu sabia que aquele era o momento ideal para isso.

_ Ei Nícolas, vou te dar uma última chance de se desculpar. _ Disse com a respiração ofegante e a bolsa no colo com a arma carregada dentro.

_ Eu não vou me desculpar, você é que tem que se desculpar por fazer todos ao seu redor aguentar seu cheiro. _ Respondeu Nícolas antes que pudesse ver a arma em minha mão.

Todos pararam o que estavam fazendo quando me viram levantar com a arma apontada para a cabeça de Nícolas. Foi quando pude ver uma lágrima escorrendo por seu rosto antes que eu puxasse o gatilho pela primeira vez.

Comecei a ouvir os gritos logo em seguida, junto com toda aquela correria, mas algo muito forte dentro de mim me impedia de parar de atirar, algo muito prazeroso, finalmente me sentia vingado e agora matarei todos que um dia já riram de mim.

_ Para pelo amor de Deus, vamos conversar, você não pode sair atirando em outras pessoas assim. _ Disse um garoto que tentava me acalmar.

_ Quem te disse que não? Todos vocês já fizeram muito mal para mim. Agora está na hora de me vingar. _ Respondi atirando em seu peito.

Alguns professores tentavam me acalmar enquanto eu descarregava toda a munição da pistola .40 da minha mãe nesses monstros que faziam da minha vida escolar um verdadeiro inferno.

_ Para um pouco e pensa em todas essas pessoas que você está tentando matar, muitos nunca te fizeram mal algum. Por favor abaixa essa arma. _ Disse a coordenadora da escola enquanto eu recarregava a arma.

Antes de parar de atirar disparei uma última bala no ombro de uma menina que olhava para mim chorando em completo desespero.

_ Não me mata, por favor, eu não quero morrer. _ Dizia a menina enquanto soluçava e chorava vendo o cano da arma encostado em seu rosto.

_ O que eu estou fazendo com a vida de todas essas pessoas? _ Me perguntava em meus pensamentos vendo aquela cena.

Quando caiu a ficha da atrocidade que era tudo aquilo soltei a arma na mão da coordenadora, que me obrigou a esperar na biblioteca até a chegada da polícia.

_ Agora estou diante desse julgamento e assumo a culpa pelo meu crime. _ Disse depois de contar a história de como tudo aconteceu.

_ A escola em algum momento percebeu algum comportamento agressivo do garoto antes? _ Perguntou a juíza para a diretora da escola.

_ Em momento algum ele apresentou qualquer tipo de comportamento suspeito e nem ao menos foi relatado algum caso de bullying em nossa escola. _ Respondeu a diretora com toda a sua arrogância.

_ Isso é uma mentira vossa excelência, vários alunos são testemunhas que o garoto realmente sofria abusos durante as aulas, porém nenhuma medida jamais foi tomada para evitar que chegássemos a esse ponto. _ Disse a mãe de um dos sobreviventes.

No fim do julgamento a juíza deu seu veredito:

_ Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente o condeno pelo massacre em sua escola, levando dois jovens a óbito e ferindo outras quatro alunas, você está condenado a três anos de internação no Centro de Internação para Adolescentes de Goiânia, sua pena começa hoje dia 21 de outubro de 2017 e perdura até esta mesma data de 2020.

Desde então estou aqui neste lugar horrível, me arrependo do que fiz e espero que ninguém siga meu exemplo, não cometam o mesmo erro que cometi, muitos ainda farão atrocidades como esta, mas jamais pensem em fazê-las também, apenas hoje percebo como minha vida poderia ser diferente, além da vida de todos aqueles que matei.

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