Sunday, March 11, 2018

Chacina em Fortaleza

_ Eu estou tão feliz com nossas férias aqui em Fortaleza. _ Eu disse para minha esposa.

_ Não te disse que seria uma ótima ideia passar nossa lua de mel nas praias daqui? _ Respondeu Amanda sorrindo e me dando um beijo.

Tudo estava perfeito, tínhamos nos casado há pouco tempo, mas somente agora tivemos dinheiro para pagar nossa lua de mel. No entanto se soubéssemos o que estava por vir jamais teríamos vindo, nesse país repleto de violência é impossível prever quando você será uma vítima.

Passamos o dia todo na praia de Iracema se divertindo e de noite fomos à um bar próximo de lá. Começamos a beber e ficamos horas jogando conversa fora enquanto a noite ia caindo e a Lua iluminava aquele céu estrelado, a lua de mel perfeita que sempre imaginávamos.

_ Agora que você está bêbado vou perguntar. _ Disse ela sorrindo.

_ Eu não estou bêbado, eu quase nem bebi. _ Eu respondi dando risada e segurando meu copo de vodka.

_ Você estava tomando cerveja até agora e começou a tomar vodka por cima, eu sei que você não está sóbrio. _ Disse ela tirando o copo da minha mão.

_ Quando nos conhecemos o que você viu em mim que mais te chamou a atenção? Só te devolvo seu copo depois de me responder. _ Perguntou ela.

_ Além do fato da sua beleza única, o que mais me chamou a atenção foi seu sorriso quando eu me apresentei para você e suas amigas naquela festa, você não estava rindo das minhas piadas horríveis, mas ainda sim seu sorriso enquanto olhava em meus olhos era sincero e lindo. _ Respondi pegando meu copo de volta e vendo aquele mesmo sorriso quando eu mencionei sobre as piadas horríveis.

_ Você é divertido e sempre fez de tudo por mim, espero que possamos envelhecer juntos e continuar assim pelo resto de nossas vidas. Eu te amo amor!!! _ Disse ela me beijando.

_ Saiba que eu jamais vou deixar que nada de ruim de aconteça, nunca vou deixar ninguém te tirar de mim e prometo cuidar sempre de você e do nosso bebê que está no seu útero. _ Eu respondi muito bêbado, mas ainda consciente do que estava dizendo.

_ Eu sei que você faria qualquer coisa por mim, mas agora chega de beber e vamos para o hotel que eu ainda tenho uma surpresinha para você. _ Disse ela acariciando meu rosto e levantando para sair.

A próxima cena ainda se repete em minha mente como uma verdadeira tortura psicológica, como se minha mente tentasse me punir pelo que não fui capaz de fazer pela Amanda.

_ TODO MUNDO NO CHÃO AGORA!!! _ Gritou o assaltante.

Não tive tempo de puxar Amanda para debaixo da mesa, muito menos para entrar na frente daquela bala que tirou a vida dela e do nosso filho, apenas tive a triste oportunidade de ver seus olhos se enchendo de lágrimas e se fechando enquanto ela segurava minha mão.

Aquele monstro ainda matou outras pessoas do local, assim como eu muitos choravam sobre os corpos das vítimas daquela chacina. Posteriormente descobri a causa daquele crime.

Aquele homem não queria roubar o lugar, talvez nem ter matado os inocentes, mas naquele bar estavam alguns traficantes de outras facções rivais a dele, a polícia o encontrou no dia seguinte e ele confessou o crime.

A mesma cena se repetia todo o tempo em minha mente, a cena do sangue saindo do peito de Amanda, a cena de suas lágrimas de desespero que substituíram a imagem que eu tinha de seu lindo sorriso, o mesmo sorriso que nunca mais verei por culpa de um traficante.

Não me importava mais quem ele era, a angustia dentro de mim me dizia que eu precisava me vingar dele, mesmo sabendo que isso não traria Amanda de volta, mas ainda sim queria que ele pagasse da pior forma possível pelo que fez.

Augusto Ferraz era seu nome e ele era um grande traficante da cidade, com seu dinheiro do tráfico conseguiu pagar um bom advogado que o tirou da prisão com um habeas corpus, alegando que outros presos de facções rivais poderiam matar seu cliente por vingança e o juiz concedeu o pedido e libertou Augusto. Mais uma prova da incrível "justiça" brasileira.

Porém o que Augusto não sabia era que algo pior o aguardava do lado de fora das grades, eu estava decidido a me vingar e logo soube que Augusto seria solto e o seguiu assim que saiu da prisão.

Logo chegamos a casa que Augusto morava, em um bairro nobre de Fortaleza,foi quando comecei a arquitetar meu plano, observando cada movimento de Augusto, todos os horários de entrada e saída da casa de Augusto e o seguindo a todos os lugares que ele costumava frequentar.

Depois de uma semana fazendo esse processo decidi sequestrar Augusto depois da missa das 19 horas que aquele assassino frequentava todo sábado.

_ Não adianta rezar, o lugar que você vai esta noite será o verdadeiro inferno e eu serei o demônio responsável pela sua tortura. Deus não vai te salvar de mim. _ Pensei enquanto engolia meu próprio vômito com nojo vendo um monstro como ele se fazendo de santo.

No término da missa o rendi usando uma arma que havia comprado para usar hoje, ele entrou em meu carro e o amarrei e vendei sua boca para que ele não tentasse gritar por ajuda. Talvez pelo monstro que ele era quem ouvisse seus gritos iria me ajudar a exterminar essa praga da humanidade ao invés de libertá-lo.

_ Quem é você? O que você quer de mim? _ Perguntou ele sem entender o que estava acontecendo.

_ Eu sou aquele que perdeu a esposa na chacina bar, a mesma que você mesmo provocou. Para você eu sou Lúcifer e vim te levar para as profundezas do inferno para fazer você pagar pelo que me fez. _ Disse a ele olhando dentro de seus olhos e apertando o seu pescoço como se quisesse arrancar a sua garganta com minhas próprias mãos.

_ O que você vai fazer comigo? _ Perguntou ele quase sem ar tentando respirar.

_ Eu sei exatamente o que vou fazer com você. Tenho certeza de que você jamais prestou atenção na escola e muito menos nas aulas de história. Eu sou um professor de história e vou te matar da pior forma que eu conheço, usada por um pirata há quinhentos anos. _ Respondi a ele, que por sua vez não imaginava o que estava por vir.

Eu me afastei da cadeira que Augusto estava amarrado, estávamos em sua própria casa, peguei uma faca grande, normalmente usada em açougues para cortar grandes peças de carne. Aquela faca era necessária, pois eu precisei fazer um corte profundo em seu abdômen.

Augusto tentava gritar enquanto a faca rasgava a sua pele lentamente, naquele momento fui tomando por uma espécie de transe que me impedia de parar. Depois de abrir todo o seu  abdômen retirei todo o seu intestino e o utilizei para enforcá-lo ainda vivo.

Nunca pensei que alguém fosse capaz de agonizar tanto para morrer, acho que não sei o que era pior, ter arrancado suas tripas ou ter usado elas para enforcá-lo.

Agora todo o piso da sala havia sido mergulhado num lago de sangue e finalmente eu me sentia vingado, porém após cometer esse crime senti a tristeza e a solidão da realidade a minha volta, eu sabia que ter me vingado não traria Amanda de volta, mas aquilo nem ao menos me fez sentir um pouco melhor.

Agora eu termino essa carta de suicídio dizendo que quando Augusto atirou naquelas pessoas no bar ele não matou apenas quem foi atingido, mas também todos os que perderam um ente querido naquela noite.

A polícia chegou dias depois, quando o cheiro de carne podre havia chegado aos vizinhos e os policiais se depararam com a cena horrível de Augusto enforcado com suas próprias tripas e Paulo com a garganta cortada segurando uma carta ensanguentada junto a faca.

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